O professor de hoje na sala de aula.
Professor geração Y
Celular,
tablet, notebook, internet, redes sociais. Carteiras, lousa, giz, livros,
enciclopédia. Dois mundos aparentemente desconectados. De um lado o cotidiano
de nossos alunos, crianças e jovens da geração Y, Z ou qualquer nome que
queiram estereotipar os que nasceram conectados à lógica de aprendizagem do
século 21. Do outro lado, escolas e um sistema de ensino ainda pautado pelas
exigências e padrões construídos para atender as demandas do século 19 e 20.
A
equação de difícil solução tem ainda um elemento importante: no meio disso tudo
está o professor. Eterno equilibrista que busca, a todo o momento, servir de
ponte para tentar conectar os dois mundos: o método tradicional e a
aprendizagem multifacetada contemporânea. Não é à toa que muitos professores se
sentem cansados, desmotivados e, quando não muito, desistem da profissão.
Peço
permissão a Euclides da Cunha para afirmar que, o professor do século 21 é,
antes de tudo, um forte. Aprendeu na universidade métodos de ensino que eram
praticados no século 19. Entrou em um sistema (o modelo educacional ainda
vigente no Brasil) que está há anos luz de atender à realidade dos nossos
alunos. O resultado não poderia ser outro: na sala de aula há um choque
iminente entre tablets, redes sociais e interatividade, com livros,
enciclopédias e detenção do conhecimento.
O modelo
de produção em massa e de educação de massa já está esgotado. Cada vez mais,
temos que buscar uma individualização da aprendizagem. Temos que olhar nossos
alunos como células produtoras de conhecimento. A função do professor em sala
de aula nos dias atuais não é mais o de detentor de todo o conhecimento
universal. Para isso existe a internet. Saber de cor uma tabela periódica, as
capitais e estados do Brasil ou as batalhas ocorridas na Revolução de 1932
tinha razão de ser quando o acesso a esta informação era limitado aos livros e
às bibliotecas. Hoje, qualquer um pode acessar a qualquer momento estas
informações com apenas um clique na tela do celular. E, acreditem, isso não os
faz menos inteligentes do que nós.
Mas
então, para que serve o professor? Descer do pedestal da sabedoria plena (como
os gregos acreditavam estar presente apenas nos deuses do Olimpo) é o primeiro
passo. O professor do século 21 deve ensinar seus alunos a aprender, a buscar a
informação e a produzir o conhecimento. O aluno deve aprender a aprender. Cabe
ao professor o papel de guia, aquele que mostra os caminhos e não aquele que
caminha pelos alunos. O foco do professor deve estar no ensino e não na mera
reprodução de conhecimento. Esta etapa de disseminação de conhecimento já
vencemos. Agora está na hora de criarmos seres que consigam argumentar perante
os fatos, criticá-los e refletir como aquilo pode impactar sua vida e a
comunidade ao seu redor. Esta é a função da escola e do professor
contemporâneo.
Entendo
que há ainda um abismo entre professores e alunos. Vivencio isso todos os dias.
Toda vez que entro na sala de aula, tenho que quebrar paradigmas que absorvi
quando sentei nos bancos universitários. E isso não faz tanto tempo! Mas, não
há outro caminho que não nos desvencilharmos da velha escola; daquela fixa em
grades curriculares, onde professores se fecham em suas aulas, onde há apenas
provas como ferramentas avaliativas e um comportamento focado na disciplina.
Educação é muito mais do que testes, vestibulares, ordem e reprodução. Educar é
descortinar horizontes, abrir caminhos, criar seres que transformem a
sociedade. Educar não é reproduzir padrões, mas refletir sobre eles e
transformá-los, se necessário. Como afirmava Paulo Freire, a educação é prática
da liberdade. Devemos dar asas aos nossos alunos para que eles possam ser mais
úteis à sociedade. Se não for por este caminho, continuaremos a sofrer.
O
desafio é enorme e não é fácil, mas temos que dar os primeiros passos. Não
temos que fazer uma revolução, mas precisamos começar a repensar nosso papel na
sociedade, pela nossa própria existência. Insisto: o professor do século 21 deve
descer do pedestal da sabedoria, sentar ao lado de cada aluno e ouvi-lo. Nossa
preocupação deve ser sempre o aluno e não nós mesmos. Pode nascer deste contato
ideias brilhantes que nós, professores, jamais teríamos se continuássemos
sentados em nossa cadeira.
Glauco
de Souza Santos
Professor de História
Nenhum comentário:
Postar um comentário